“Careta é filho de Careta. Mal começa a andar e já sai brincando”. Quem garante e sabe, porque abraçou o legado do pai, Augusto Fernandes da Silva, é o Mestre Zé Augusto, do Sítio Cabaceiras, no município de Umari. Aos 14 incompletos, ele lembra, tomou conta da turma de brincantes formada por adultos. E nunca mais deixou a brincadeira dos mascarados, repetindo anualmente uma tradição que, somente sob a sua batuta, completa 55 anos.
“Começou com meus avôs, depois meu pai. Hoje, no grupo, são 25 pessoas, mas no final da brincadeira tem pra mais de 50, porque todo mundo quer brincar um pedacinho”, adianta o Mestre. Em Umari, a festa popular começa na “Quarta-feira de Treva” e vai até a “Sexta-feira da Paixão”, tomando as ruas do município e distritos próximos ao som da sanfona, do triângulo e da zabumba, em um forrobodó dos bons atravessado pelo timbre agudo dos apitos e o balançar dos chocalhos. “Enquanto a polícia não manda nós pra casa nós não vem. Pelo nosso gosto, brincava o tempo todim. Eu, pelo menos, enquanto puder andar no meio do mundo com os caras, vou tá lá. Quando não puder, monto num animal e vou de todo jeito. Faço porque acho bom”.
Santa Helena, Bonita e Retiro. Cajuí, Baixa do Gavião, Traseirinha. Por fim, o município-sede. “Enquanto não fizer o entrançado todim a gente não se aquieta não. E vai até de madrugada, gente rolando aí. Só sábado é que não pode, os Caretas não saem. Mas tem o forró. No outro dia é todo mundo de ressaca, aí é só descansar. Porque aqui não tem malhação do Judas”, relata o dono da brincadeira.
Com a permissão do Mestre, as máscaras dos Caretas de Umari podem nascer de materiais diversos e até ser adquiridas no comércio local: couro, tapete, plástico, vale o que couber no bolso ou tiver ao alcance das mãos calejadas dos trabalhadores rurais. “De primeiro, a gente brincava com nossas roupas mesmo, tudo molambentos. E as máscaras eram de couro de bode, mandava curtir aquele couro. Mas resolvi liberar, porque todo mundo já tava liberando”.
No desfile anual de máscaras de todo tipo há quem se destaque, como a Moça e a Véa. Ambas com a mesma função: bater às portas dos sítios e pedir prendas. “As Véa são feitas por homens, que botam seios e bundas imensas. Nas ruas, os tocadores tocam forró e a gente dança. Naqueles dias santos, tem que fazer o dinheiro do tocador e da comida de quem organiza a brincadeira. É apertado, mas nós faz. Não tem como deixar de fazer. Quando chego numa casa e apito, aquela ruma de gente me acompanha. É uma forma de agradecer”, acredita o Mestre, narrando como quem faz uma oração.
Nome do Grupo: Caretas de São Gonçalo
Localização: Logradouro – Umari/CE
Organização: Benício Gomes, Luís Fernando Viana e Francisco Diego da Silva
Número de participantes (média): 35
Data de Criação: 2017
Redes Sociais: @caretas_do_sao_goncalo